Temendo que a invasão da Ucrânia pela Rússia interrompa seu fornecimento crucial de importações de fertilizantes, a potência agrícola do Brasil está cada vez mais se voltando para alternativas naturais.
O Brasil, maior produtor de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e café, é o quarto maior consumidor mundial dos chamados fertilizantes químicos “NPK” – à base de nitrogênio, fósforo e potássio.
Importa cerca de 80 por cento de sua oferta total – e 25 por cento da Rússia, cujas exportações agora foram alvo de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.
Isso está fazendo com que os agricultores do gigante sul-americano recorram a alternativas, incluindo remineralizantes, ou “agrominerais” – rochas pulverizadas e ricas em nutrientes que são espalhadas nos campos antes do plantio.
O Brasil, que autorizou os remineralizantes para uso agrícola em 2013, é líder mundial na técnica, que também é utilizada nos Estados Unidos, Canadá, Índia e França, entre outros.
“O Brasil é um país tropical e as chuvas tendem a levar os nutrientes do solo. O pó de rocha reconstrói o solo e o renova”, diz Marcio Remedio, diretor de recursos minerais do Serviço Geológico Brasileiro.
A técnica também “permite que as raízes das plantas se desenvolvam melhor e capturem os nutrientes de que precisam para crescer”, diz Suzi Huff Theodoro, geóloga da Universidade de Brasília.
“Temos rochas com o perfil certo em várias partes do país e o custo é significativamente mais barato” do que os fertilizantes químicos, disse à AFP.
– Além dos produtos químicos –
Um estudo do ano passado descobriu que cerca de 5% das terras agrícolas no Brasil usavam remineralizantes.
Esse número deve aumentar este ano: os 30 fornecedores do país relatam que estão vendo uma demanda sem precedentes, diz Theodoro.
“A maioria já vendeu toda a produção do ano, para todos os tipos de fazendas – desde as industriais até as médias, pequenas e principalmente ecologicamente corretas”, diz ela.
O agricultor Rogério Vian quase parou de usar fertilizantes químicos.
Vian, que administra uma fazenda de soja e milho de 1.000 hectares (cerca de 2.500 acres) no estado de Goiás, centro-oeste, foi um dos primeiros a adotar tecnologias alternativas.
Ele começou há nove anos fazendo seus próprios produtos a partir de microrganismos encontrados em florestas nativas.
Ele os pulverizou e os aplicou durante o plantio para proteger contra parasitas e ajudar suas plantações a absorver nutrientes.
Agora Vian, que fundou a Association for Sustainable Agriculture (GAAS), com 700 membros, também está usando remineralizadores.
“Reduzi meus custos com fertilizantes e tratamento de sementes em 50%, sem perda de produtividade”, diz ele.
“O Brasil é um país megabiodiverso e com um enorme potencial em termos de ferramentas e técnicas para o nosso trabalho, que estamos apenas começando a descobrir.”
– ‘Mudança imparável’ –
O Brasil ainda usará fertilizantes NPK no futuro próximo, mas pode reduzir drasticamente sua dependência de fornecedores estrangeiros, diz o pesquisador José Carlos Polidoro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Os fertilizantes orgânicos e organominerais – feitos com resíduo de mineração, resíduo orgânico agroindustrial e lodo de esgoto – respondem hoje por 5% do mercado brasileiro de fertilizantes”, diz.
“Mas eles têm o potencial de reduzir nossas importações em 20 por cento.”
Outra técnica de rápido crescimento: tratar as plantações com rizobactérias, que extraem nitrogênio do ar e o entregam diretamente às plantas, ajudando-as a crescer – e reduzindo o consumo de fertilizantes industriais à base de nitrogênio.
Não que os agricultores que adotam rapidamente esses produtos tenham uma linha fácil de enxar.
“Os agricultores estão tendo dificuldade em encontrar financiamento para investir mais, e há uma escassez de assistência técnica disponível”, diz Carlos Pitol, consultor agrícola no estado do centro-oeste de Mato Grosso do Sul e membro do GAAS.
“Mas a mudança no sistema de produção está crescendo e é imparável.”
mje / jhb
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